O Parque Estadual de Canudos possui 1.321 hectares e foi criado através do Decreto 33.333 de 30 de junho de 1986 e sua constituição está vinculada à emancipação da cidade de Canudos. Boaventura (1996) afirma que “o parque é o coração de Canudos, que exige visita obrigatória. Parque que se abrirá em veredas e sendas para que o futuro possa construir o passado” (BOAVENTURA, 1996, p. 68). Sublinha-se que Boaventura compara a importância da criação do Parque de Canudos com o estabelecimento do Parque Histórico de Castro Alves, destacando o caráter educativo de ambos para a sociedade:
Parque de Canudos — parque dos sertões euclidianistas da Bahia, companheiro do Parque de Cabaceiras do Paraguaçu, ambos preservam lugares sagrados. Um recolheu a glória de Castro Alves, para proporcionar educação a mais de seiscentas crianças. O outro, o de Canudos, ensina pelos fatos da guerra (BOAVENTURA, 1996, p. 69)
No artigo Parque Estadual de Canudos: Criação e Evolução, escrito por Edivaldo Boaventura e publicado em 1996, encontram-se informações basilares sobre o estudo da criação e relevância do Parque Estadual de Canudos (PEC) que fica localizado no nordeste do estado da Bahia. Por sugestão de Renato Ferraz, no alvorecer do ano de 1985, iniciam-se às ações de criação do PEC. A primeira delas foi a declaração de reserva das terras devolutas através do Decreto 33.193 de 27 de maio de 1985 sob a justificativa de que o sítio bélico deveria ser preservado.
Portanto, a existência de tais espaços culturais de preservação da memória são a interface entre a leitura do passado e o entendimento do futuro através do turismo cultural. E de fato, o Parque foi criado como uma unidade de conservação com a função precípua de promover a educação. Até os dias atuais, a administração do Parque está sob a responsabilidade da Universidade do Estado da Bahia que realiza no local pesquisas científicas e educação ambiental.
Além disso, é dada ênfase não apenas aos aspectos históricos, mas também à relação do homem com o ambiente natural, cultural e biológico. Assim, alguns dos objetivos fundamentais previstos no regulamento geral de manejo do Parque abrange a proteção e preservação de unidades importantes ou sistemas completos de valores naturais, ou culturais, desenvolvimento da educação pública e, acrescenta-se, o desenvolvimento do espírito cívico e educativo (BOAVENTURA, 1996, p. 71).
A dimensão ecológica do Parque se dá em três direções que perpassam pelo resgate da memória histórica, a sustentabilidade social e o desenvolvimento do turismo cultural, conforme expresso:
Primeiramente, reunido da documentação escrita, oral c visual, para que se resgate a memória histórica; em segundo lugar, elaboração de projetos sócio-econômicos com aplicação e participação da comunidade, para que o parque funcione como organismo vivo e atuante, em meio terrivelmente pobre; e em terceiro e último lugar, trabalhos foram realizados para a salvaguarda dos sítios históricos e arqueológicos, dedicando-se especial atenção para o turismo cultural (BOAVENTURA, 1996, p. 71, grifo nosso).
Estas palavras de Boaventura semeadas em 1996 ecoam em dias atuais, evocando a urgência de um pensar e agir em prol da sustentabilidade social por meio de um turismo cultural que amplie a divulgação da preservação da memória histórica de Canudos. É necessário que ações individuais e coletivas, que já estão sendo implementadas no Parque e que dialogam com os preceitos de criação dessa unidade de conservação, sejam legitimadas e apoiadas de modo a superar as tentativas de apagamento e silenciamento dos fatos históricos do Brasil.
Roteiro da visita guiada ao Parque Estadual de Canudos
Os pontos de interesse para visitação estão espalhados pelo Parque Estadual de Canudos e por isso cria-se um roteiro da narrativa que permita uma melhor compreensão dos acontecimentos históricos da Guerra de Canudos:
Hospital de Sangue — neste local os militares feridos eram atendidos pelos enfermeiros enviados pelo Governo e com o auxílio de Dona Izabel Oliveira, antiga moradora do parque, foram encontrados materiais hospitalares que indicam a existência do Hospital. Neste aspecto, relatos apontam que os conselheiristas buscavam a cura em plantas medicinais, e nisto, menciona-se Manoel Quadrado como um enfermeiro caseiro.
Alto das Memórias — o local abriga uma exposição fotográfica ao ar livre das testemunhas oculares da Guerra e que durante sua existência transmitiram à sociedade essa história de luta pela sobrevivência.
Vale da Morte — trata-se de uma espécie de cemitério militar onde os mortos eram jogados em valas rasas para serem consumidos por animais. A existência de ossadas comprova este passado tenebroso.
Trincheiras Conselheiristas — são buracos de um metro e meio de altura onde ficavam os conselheiristas na espreita das tropas do exército.
Alto da Favela — desse local se tem uma vista panorâmica da antiga Canudos submersa pelas águas do Açude Cocorobó, restando a Igreja como testemunha do fato histórico.
Outeiro das Marias — este espaço é dedicado às mulheres que rezavam para acalmar o fogo da Guerra e que bravamente morreram no combate.
Após esse percurso, a visitação é finalizada no Museu Casa da Vó Izabel que será descrito mais adiante na parte da metodologia. Contudo, o que não se pode desprezar, até aqui, é o valor experiencial da visitação em poder ouvir a narrativa da história enquanto presente no palco da Guerra. Isso coloca o visitante como sujeito passivo na apreensão do saber dessa apresentação, mas que o converte em sujeito ativo, e responsável, no compartilhamento dessa vivência com outras pessoas, pois “nenhum roteiro, portanto, antecipa o prazer e nenhuma narrativa indicadora satisfaz a necessidade de conhecer” (MENESES, 2006).
Duração da visita: 1h
Contato e redes sociais
Whatsapp (75) 99123-7570
Instagram @museucasadevoizabel